quinta-feira, 7 de julho de 2011

Afinal, ocorre avaliação por competências? Se ocorre, os alunos reconhecem?

Um dos dados que mais chama a atenção é a falta de conexão das avaliações e da prática das aulas com o que o aluno já traz consigo. Ao serem questionados se é feita uma avaliação prévia dos conhecimentos que já trazem consigo no início das disciplinas, 2,81 foi o resultado médio obtido numa escala de 1 a 5. 
 

Comparando as médias obtidas na questão que avalia a competição por notas (As avaliações favorecem a competição por melhores notas) e a que privilegia a cooperação (Avaliação exige uma certa forma de colaboração entre os colegas), percebe-se um ranking muito próximo (2,77 e 3,10), o que pode indicar uma indefinição na percepção dos alunos.

Para Perrenoud (1999), é razoável que isso aconteça em função de:
- Ambivalência dos professores, que estimulam a competição por notas;
- mesmo que o professor não estimule, o sistema escolar se encarrega disso;
- a hierarquia da excelência predomina na sociedade e a sala de aula replica o passado do aluno.
É notória a busca pelo resultado em notas, conforme atesta a questão "estudo para tirar boas notas" - que atingiu um dos mais altos escores (3,75)
  
Para Jacques Delors (2000, p. 96) "aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros" é a educação se fazendo ao longo da vida. Aprende-se a respeitar diferenças quando o processo passa por uma continuidade de percepção do outro.
Por outro lado, percebeu-se que a autoavaliação (a auto avaliação faz parte de avaliação- 3,23) e a construção de instrumentos de avaliação pelo grupo (costumo participar na escolha dos instrumentos de avaliação que serão aplicados no decorrer do semestre- 2,58) são práticas com aplicação limitada e poderiam contribuir na construção da aprendizagem. Para Melchior (2007), a "autoavaliação  torna-se, antes de tudo, um autoquestionamento" o que contribuiria na reflexão sobre o próprio aprendizado.
Percebeu-se, porém, que há um distanciamento preocupante entre a prática avaliativa e a associação às competências necessárias no ambiente de trabalho, conforme a Figura abaixo:

Ao serem questionados se percebem que as avaliações servem para simular situações próximas à vida profissional o escore ficou em 3,35, o que pode representar uma hesitação por parte do aluno.
Resultados semelhantes ocorreram ao questioná-los sobre resoluções de conflitos ou problemas como práticas usadas como avaliação. Na mesma escala, o resultado médio ficou em 3,22.

Situação próxima foi verificada por Nunes e Barbosa (2009) ao inferirem que nos casos pesquisados em seus estudos sobre a prática avaliativa em cursos de administração. Segundo os autores, as avaliações tendem a privilegiar a aquisição de conhecimento em detrimento a construção de competências.
 
É cedo para tecermos conclusões (e talvez nunca as encontraremos). É necessário que se colham resultados com um número maior de alunos para que se possa consolidar opiniões. Restam, no entanto, dúvidas a serem dirimidas:
  • Até que ponto a formação profissional no ensino superior realmente está aplicando a avaliação por competências?
  • E, o principal alvo desse trabalho, os alunos percebem se estão realmente tendo esse tipo de formação, que, ao fim e ao cabo, lhes proporcionaria uma inserção mais adequada ao ambiente de trabalho que está por vir? 
  • Alunos e professores estão preparados para avaliar competências dentro do que os Projetos Político-pedagógicos que as instituições apregoam? 
Há muito a que se investigar, comparar, alicerçar, construir, ampliar, refletir. Até porque o processo de avaliação por competência possui a dinâmica complexa da sociedade pós-moderna, que exige correções e aprimoramentos, cotidianamente, buscando aproximar a formação profissional à necessidade do mercado de trabalho.

Correlações

Fizemos uma análise de correlação das repostas obtidas com o objetivo de avaliar o grau de associação dos respondentes com relação aos questionamentos investigados na pesquisa. As correlações mais relevantes estão identificadas em amarelo.
As relações mais fortes entre os atributos pesquisados foram: Q11 (Os instrumentos de avaliação usados no curso são apropriados) x Q13 (A avaliação costuma ser usada como apoio na aprendizagem) e Q22 (As avaliações estão abertas a opiniões) x Q25 (As avaliações são de caráter pessoal e não devem ser publicadas). No entanto, estas duas relações (Q11xQ13 e Q22xQ25) possuem direções opostas. Enquanto a correlação entre Q11 e Q13 é forte e positiva, ou seja, à medida que as respostas de uma variável aumentam as da outra também crescem (correlação = 0,73),  a correlação entre Q22 e Q25, apesar de forte, é moderadamente negativa, ou seja, à medida que as respostas de uma das variáveis aumentam a da outra diminuem (correlação=-0,65).

De uma forma conclusiva podemos dizer que: as avaliações atribuidas pelos respondentes quanto aos instrumentos de avaliação usados no curso são apropriados e a avaliação costuma ser usada como apoio na aprendizagem seguem um mesmo sentido de opinião. Ou seja, os respondentes que DISCORDAM que os instrumentos de avaliação são usados de forma apropriada (Q11) também DISCORDAM que a avalaição costuma ser usada como apoio na aprendiazagem(Q13) e aqueles entrevistados que CONCORDAM que os instrumentos de avaliação são usados de forma apropriada (Q11) também CONCORDAM que a avalaição costuma ser usada como apoio na aprendiazagem(Q13). Possuem, portanto, o mesmo sentido de resposta para os dois aspectos investigados.
 
Já quando analisamos os itens: As avaliações estão abertas a opiniões(Q22) e as avaliações são de caráter pessoas e não devem ser publicadas (Q25) as respostas acontecem de sentido inverso. Ou seja, os respondentes que DISCORDAM que as avaliações estão abertas a opiniões (Q22) CORCORDAM que as avaliações são caráter pessoal e não devem ser publicadas (Q25) enquanto aqueles entrevistados que CONCORDAM que as avaliações estão abertas a opiniões (Q22) DISCORDAM que as avaliações são de caráter pessoal e não devem ser publicadas (Q25). Possuem, portanto, o sentido oposto de resposta para estes dois aspectos investigados.

Metodologia e descrição da amostra

Foi realizada uma survey entre os alunos do Centro de Ciências Econômicas da UNISINOS, com o objetivo de desenvolver um estudo teórico-empírico que pudesse responder a questão de como os alunos percebem a avaliação por competências.
Os questionários foram aplicados em sala de aula, em data de avaliação final, em que os alunos responderam a 6 questões investigativas sobre o perfil do aluno e 25 dirigidas ao tema deste estudo, avaliação por competências.
Foram entrevistados 32 alunos, sendo 16 de Ciências Contábeis, 13 de Administração e 3 de RH. Para fins de comparação estatística, os alunos de Administração e RH foram agrupados, gerando dois grupos de proporções semelhantes. As análises das médias das respostas poderam ser analisadas comparando grupos, porém, levantamentos estatísticos mais sofisticados, como análise de correlação e fatoriais foram estudados pelo total da amostra.

Curiosamente, há uma desproporção entre gêneros na amostra, com predominância de 84 por cento do sexo feminino.

 
A idade dos entrevistas fica entre 20 e 52 anos, com média de aproximadamente 28 anos.
 
Observou-se que 30 dos 32 entrevistados trabalham, o que pode permitir um pressuposto de que já têm noção das competências que lhes serão cobradas na vida profissional.